Por que imagens feitas por IA não são fotografias de verdade
- Daisa TJ
- Aug 7
- 3 min read
Updated: Aug 1
A fotografia feita por IA não é fotografia (e por que isso importa)
A diferença entre presença e simulação, luz real e ilusão digital.
Vivemos um momento em que imagens geradas por inteligência artificial inundam as redes e, muitas vezes, são chamadas de “fotografias”. Mas isso levanta uma questão importante: é possível uma imagem ser considerada fotografia se nunca houve luz, presença ou realidade?
Na minha visão, não. E te explico por quê.
Fotografia, desde sua origem, é sobre capturar a luz. Seja com uma câmera obscura, uma analógica ou um celular — sempre houve um espaço, um tempo e uma luz real atravessando o mundo e tocando algum tipo de sensor ou filme. A IA, por outro lado, não registra nada. Ela gera. Ela combina dados, pixels e instruções para simular algo que nunca existiu.
Uma imagem feita por IA pode até ter aparência “fotorrealista”, assim como uma pintura hiper-realista também pode ter. Mas isso não faz dela uma fotografia. Continua sendo outra coisa.

A presença importa
Mesmo a selfie mais despretensiosa exige presença. Alguém estava ali, num lugar real, com luz o suficiente pra o sensor captar. A fotografia exige um corpo, um tempo, uma escolha. A IA não precisa de nada disso — ela simula a luz, a textura, a existência. Mas não esteve presente.
Um ensaio fotográfico, por exemplo, não pode ser criado por IA. Desde a conversa antes, a troca de referências, a preparação, o momento da captura, até a espera pelas fotos... tudo isso faz parte da experiência. Com IA, você pode até “ir pro espaço” — mas não de verdade.

O perigo da confusão
O problema não é a IA em si — é a confusão.Pessoas estão sendo levadas a acreditar que tudo é fotografia. E isso pode tanto gerar elogios quanto desvalorizações equivocadas. Já aconteceu comigo: alguém ver uma foto real, bonita, e dizer “nossa, parece IA!”.
Às vezes soa como elogio, mas também pode apagar o trabalho, o cuidado, o instante real que existe naquela imagem.
Com a evolução acelerada da tecnologia e a falta de pensamento crítico em massa, esse tipo de uso sem reflexão pode ser malicioso ou enganoso. E pior: pode desumanizar ainda mais o que já é, muitas vezes, um processo solitário.

O valor do real
Gosto de acreditar que a fotografia autoral, justamente por ser real, aumenta de valor nesse contexto.Para quem valoriza experiências, memória, presença — a fotografia continua insubstituível.
Claro que cada pessoa pode escolher o que quer consumir ou criar. Mas é importante nomear as coisas corretamente: imagem feita por IA não é fotografia. E tudo bem se alguém quer se ver de uma forma que só a IA pode entregar — isso também é válido. Só não é a mesma coisa.
Enquanto houver quem valorize a experiência humana, a fotografia terá lugar
A fotografia, seja documental, artística ou científica, sempre foi um registro real de um instante.E enquanto houver quem valorize viver, tocar, estar... a fotografia continuará insubstituível.
Porque a vida humana é sobre experienciar o mundo — e isso não se simula.

Nota importante:
Quero deixar claro que não sou contra o uso de inteligência artificial. Acho incrível o que ela pode oferecer como ferramenta para artistas — ampliando possibilidades criativas, acelerando processos, inspirando novas linguagens. O que critico é quando ela é usada como substituição de artistas e da experiência humana, apagando justamente o que nos torna únicos: nossa presença, nossa história e nossa relação com o real.

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